Eliane Calheiros Cansanção
Ser adolescente hoje é vivenciar um mundo diferente, de muita complexidade e incertezas.
É necessário questionar sobre as influências deste novo mundo para a adolescência e como as mesmas se manifestam com características de desatenção, hiperatividade, oposição, desconexão, ansiedade, dificuldade de aprendizagem… como também acrescentar conceitos que se destacam na história da subjetividade, do meio social e escolar.
Vivemos hoje grandes transformações econômicas, sociais e tecnológicas no mundo, um processo de mutação, revolução tecnocientífica (Adauto Novaes, 2008), com novos modelos de família, com mudanças de valores e paradigmas na sociedade, os quais produzem um descompasso social que reflete no modo de ser e viver da humanidade, principalmente no adolescente.
Este ano de 2012, o grupo de estudo de psicopedagogia de Maceió – GESPpMA propõe pensar e sentir esta fase da adolescência com pais, professores, educadores e terapeuta abrindo um espaço de reflexão e pergunta.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a adolescência como constituída em duas fases: a primeira, dos 10 aos 16 anos, e a segunda dos 16 aos 20 anos.
A adolescência é, basicamente, um fenômeno psicológico e social. Nesse contexto, ser adolescente é ir construindo sua passagem da infância para a vida adulta – período em que ocorrem mudanças orgânicas, neurológicas, afetivas e cognitivas, mudanças estas que são intrapsíquicas e relacionais, que acontecem cada vez mais precocemente, gerando um grande desafio para os pais, educadores e, principalmente, para os próprios adolescentes.
Os conflitos que fluem nesta fase exigem uma reorganização do funcionamento familiar e muita paciência, assim como estratégias pedagógicas diversificada por parte dos educadores para lidar de modo mais eficaz com o adolescente.
O adolescente precisa, nesta fase, dar novo significado a sua história de vida para poder construir seu futuro, viver como um ser social, consolidar sua identidade adulta, desenvolver sua capacidade de abstração e criatividade.
Os pais, diante de tantos desafios que lhes são impostos nestes novos tempos, atravessam uma forte crise – a de não saber que direção seguir e que decisão tomar.
A família contemporânea desempenha um papel fundamental e estruturante diante de tantas mudanças. É responsável por garantir a realização e o desenvolvimento da formação humana, bem como ser um lugar de afeto, amor, respeito, aprendizagem, do brincar e, sobretudo, um espaço de comunicação entre pais e filhos.
Filhos adolescentes precisam de pais que estabeleçam limites e regras, da autoridade paterna, da criação de um espaço de confiança, do respeito à hierarquia familiar, de pais adultos que sejam capazes de se diferenciarem dos filhos, de modelos de pais que ressaltem os princípios e valores positivos, de muito diálogo e de pais mais presentes e participativos em suas vidas.
A escola também tem o seu papel fundamental na formação da criança e do adolescente: inserir esse sujeito adolescente no mundo social, mostrar para ele que o mundo é muito maior do que parece e que os conflitos e obstáculos que surgem na vida servem como possibilidades para a construção de novos caminhos. É um espaço para pensar, para criar e para humanizar o indivíduo.
Diante de tantos desafios da sociedade moderna, precisamos descobrir novas prioridades e caminhos dentro dos sistemas sociais e culturais que possam favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social do adolescente, construindo um mundo com menos desequilíbrios sociais, mais justo e humano.
“A lição mais importante que o ser humano, numa sociedade em ‘mutação’, pode aprender é: SUPORTAR A FRUSTRAÇÃO” (Capellato.l, 2001).
Eliane Calheiros Cansanção
Psicóloga e Psicopedagoga Clínica