Pedagogia Sistêmica – Um novo olhar para educação
Eliane Calheiros Cansanção
Psicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Sistêmica
“ Quero ver uma nova história, uma nova educação, que não vem só da cabeça, do conhecimento intelectual, mas que seja também sobre o coração”
( Satisk Kumor)
O século XXI nos coloca diante de um grande desafio: a educação. Esta, no momento, não consegue atender a demanda de mundo frente as mudanças profundas que vem ocorrendo em nossa sociedade, principalmente a tecnológica, a social e a cultural.
O momento requer mais pesquisas no âmbito da aprendizagem porque vivemos novas realidades em um mundo com excesso de estímulos. Sendo necessário uma nova escola para crianças e jovens.
As mudanças que vêm ocorrendo refletem de modo significativo nos sistemas familiar, escolar e social, no processo de formação do ser humano e no processo de ensino e aprendizagem.
É preciso, portanto, pensar em construir uma nova escola onde o aprender aconteça em conexão com a mente e o coração, transformando a educação.
Percorrendo os caminhos da psicologia, da psicopedagogia e da educação, encontrei a pedagogia sistêmica que para mim vem sinalizando um novo olhar e escuta nos modos de aprender com possibilidades de encontrar soluções adequadas para a escola do século XXI.
A pedagogia sistêmica surge neste cenário como um novo paradigma educacional, que segundo Vilaginés (2001, p.17) é “uma nova forma de olhar que implica trocas profundas na forma de pensar a educação em nossas atividades, para todos aqueles que intervêm no ato educativo: famílias, alunos, professores, etc.”
Abrange o sistema fenomenológico ampliando o olhar para os processos de ensino e aprendizagem e suas dificuldades de um outro lugar. A pedagogia sistêmica leva em conta o que há de oculto nos sistemas familiares e escolares que impedem a pessoa de crescer e aprender, através do olhar das constelações familiares de Bert Hellinger. Pode ser aplicada em situação de dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, conflitos, exclusão fracasso escolar que repetem padrões do seu sistema de origem.
As teorias sistêmicas, a física quântica e a fenomenologia vem apontando para outra direção. Maturana e Varela, cientistas chilenos (séc.XX) descobriram em sua teoria da Autopoeise – a biologia do ser vivo – a relação intrínseca entre a vida e o conhecimento e coloca “viver é conhecer, é relacionar-se, é estabelecer vínculos de cooperação (1995).
A pedagogia sistêmica inicia a partir dos trabalhos de Bert Hellinger (psicoterapeuta alemão) – criador da terapia sistêmica fenomenológica, com as constelações familiares. Técnica que permite olhar o indivíduo dentro do contexto familiar a partir das relações que se estabelecem com as pessoas da família e com as pessoas que não fazem parte da família através de vínculos de amor e lealdade.
Marianne Franke-Grickch, terapeuta familiar e professora foi quem primeiro utilizou o trabalho sistêmico na escola, através do “jogo familiar” com base no pensamento de Bert Hellinger. Falando para os alunos:
“ Eu sempre vejo vocês juntos com seus pais em nossa sala de aula. Para mim está claro que aqui não estão sentados apenas 22 alunos, mas 22 famílias perante mim, portanto junto com o pai e a mãe são 66 pessoas, mais eu, meus filhos e o pai deles”(200 – p.22).
Ressalta também que é possível se sentir forte quando se conta com a ajuda ou o apoio interno dos pais e a importância de reverenciá-los e estar em harmonia com eles.
Angélica Patrícia Olvera Garcia, mestra em pedagogia sistêmica, é a criadora da pedagogia sistêmica com enfoque em Bert Hellinger aplicada a educação a nível internacional (Alemanha, Espanha, México ) e mais recentemente no Brasil. Em 1999 ocorreu o primeiro encontro com Bert Hellinger e o Centro Universitário Doctor Emílio Cárdenas – CUDEC, México e que permanece até os dias atuais ampliando a teoria sistêmica a alunos, professores e pais de família, desenvolvendo também o Programa de Apoio Familiar na instituição. Em 2001 foi dado o nome de pedagogia sistêmica por Sylvia Kabelka.
Segundo Olvera (2004) “ a pedagogia sistêmica é a inter-relação do processo de trabalho pessoal dos professores, o trabalho com as crianças e a contextualização dentro das leis das ordens do amor de certos conteúdos curriculares a nível educativo, junto com a necessária inclusão dos pais das crianças dentro do processo de educação”.
Afirma que a pedagogia sistêmica com enfoque em Bert Hellinger tem como objeto de estudo as relações intrasistêmicas, intersistêmicas e transistêmicas que existe na família, na escola e que tem impacto no processo educativo dos seres vivos, através do método fenomenológico, sistêmico e transgeracional. (Olvera.A -2017 p. 79).
Para Bert Hellinger as relações humanas seguem leis que denominou de ordens do amor e quando não são seguidas podem surgir os emaranhamentos familiares. São as leis do pertencimento, da ordem e do equilíbrio.
O Pertencimento- todo membro de uma família tem o mesmo direito a pertencer. Para ele a força vem do lugar certo que a pessoa ocupa.
A Ordem – dentro de um sistema, a hierarquia é comandada pela precedência no tempo. Os que vieram antes tem autoridade sobre que chegaram depois. Os pais são os grandes e os filhos os pequenos. Os pais no lugar de pais, os filhos no lugar de filhos, cada um na sua função. Quem veio antes e depois tem haver com o vínculo entre as gerações. Com ordem o amor pode fluir.
O equilíbrio – Dar e receber. É a lei do dar e tomar no trabalho sistêmico. Onde houver pessoas se relacionando, esta lei deve estar atuando. Quando há um desequilíbrio, uma das partes pode se sentir pressionada a se afastar. Só ocorre exceção na relação entre os pais e os filhos. Os pais somente dão e os filhos tomam sempre. A compensação só ocorrerá quando os filhos se tornarem pais.
A má e a boa consciência nas constelações sinalizam para as lealdades invisíveis que são inconscientes.
A boa consciência é o lugar conhecido, são as velhas verdades na família que se pertence. A má consciência é o novo, as novas verdades que algum membro da família resolve assumir frente ao grupo. Quando se toma tudo que veio com herança, destino, a partir da boa consciência, se pode adentrar a má consciência, transformando o que recebemos e agregando novas maneiras de ser.
Bert Hellinger (apud Mercé Traveset,2011) enfatiza a importância da relação entre pais e professores seguir a ordem sistêmica, onde primeiro vem os pais, depois as crianças e logo após os professores.Quando não ocorre esta ordem na escola, observam-se os conflitos na relação família-escola.
O professor precisa se apropriar de conhecimentos sistêmicos para perceber seu real lugar e sua função na escola, favorecendo assim, uma melhor relação família escola. O professor é apenas professor e deve perceber a importância de estar em paz, em harmonia, com sua própria família de origem. Acolher seus pais no coração, entendendo que não é melhor que seus pais, nem que seus alunos e se libertar seguindo em frente dando continuidade a sua história de vida.
Como coloca Amparo Pastor: “cada um em seu lugar para poder educar.”
Concluindo, a pedagogia sistêmica abrange todas as metodologias educativas favorecendo o trabalho com a inclusão, a ordem e o equilíbrio.
“A escola é um lugar sagrado onde se molda a vida. “(Olvera. A)”
Eliane Calheiros Cansanção
Maceió/2017
Email: ec.cansancao@hotmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
-Franke-Gricksch, M. Você é um de Nós – Percepções e soluções para professores, pais e alunos. São Paulo: Ed. Atman. 2009
GARCIA, A. P. O.. Pedagogia Sistémica Cudec con el enfoque de Bert Hellinger. México: Editorial Grupo CUDEC,2017 235p.
-Hellinger, Bert. As Ordens do Amor: um guia prático para o trabalho com Constelações Familiares.Trad. Newton de Araújo de Queiroz; revisão técnica Heloisa Giancoli Tironi,Tsuyuko Jinno-Spelter. São Paulo: Cultrix. 424 p. 2007
-Vilaginés, Mercé T. (2011) La Pedagogia Sistémica: fundamentos y prática. 4ª reimpresión. Barcelona (Espanha): Editorial Grão, 2011.
Vieira, A. J.H . Humberto Maturana e o espaço relacional da construção do conhecimento.
https://frontierfloating.wordpress.com/2012/07/25/humberto-maturana-e-o-espaco-relacional-do-conhecimento/. Acesso em 25 de julho 2017.