A Família e a escola, redes de intercâmbio sistêmico fenomenológico
Eliane Calheiros Cansanção
Psicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Sistêmica
“ Cada um em seu lugar para poder educar”
(Amparo Pastor)
Família e escola são dois sistemas que podem caminhar juntos, ambos se completam quando cada um exerce sua função.
Observa-se no cenário atual uma relação família e escola difícil, de questionamentos entre pais e professores quanto ao trabalho e o papel que cada um desempenha, mostrando uma relação fragmentada sendo necessário clarificar os papéis de cada sistema.
Como coloca Amparo Pastor é preciso que cada um esteja em seu lugar para poder educar, na família e na escola, construindo assim a possibilidade de maior diálogo e comunicação.
A escola desempenha hoje papel importante para sociedade, para o desenvolvimento humano, por se encontrar “entre “o sistema familiar e social, ser um espaço de aprendizagem para vida, estar a serviço da vida e para o futuro da humanidade.
Por sistema se define um conjunto de elementos em interrelação entre eles e de forma conjunta com o ambiente, com propriedades, características específicas de unidade, complexidade, ordem, limites, etc.
A teoria sistêmica iniciou com o austríaco L.Von Bertalanfly( biólogo),no começo do século XX, com a teoria geral dos sistemas aplicada aos seres vivos.
Foi Bateson (antropólogo) quem aplicou essa abordagem teórica na família e nas estruturas sociais, levando a surgir várias ideias e escolas sistêmicas como a física quântica, a teoria do caos, a escola de Milão, a escola de Palo Alto, o construtivismo entre outras.
O movimento sistêmico iniciou em 1960/1970, com os neurobiólogos chilenos Humberto Maturana e F. Varela com a teoria da Autopoiese, a biologia do ser vivo – que é capacidade de participar de sua própria criação – organização autopoética.
A concepção educacional de Maturana busca resgatar a vida como o centro de todos os processos sistêmicos. E ressalta: “O educando não aprende uma temática, senão um viver e um conviver. Aprende uma forma de viver o ser humano” (1995).
Bert Hellinger ( Psicoterapeuta alemão – 1980), através de suas pesquisas e trabalhos realizados denominou seu procedimento de “sistêmico-fenomenológico” com base no respeito e amor à família, com uma postura voltada aos princípios que são inconscientes denominadas “ordens do amor”, aplicado a técnica das constelações familiares. Sua proposta com o ser humano tem como matriz a família. Construiu a percepção de que o sistema permanece como uma grande fonte de conhecimento da história familiar e age sobre todos que pertencem àquele determinado sistema, ao campo, denominado por Rupert Sheldrake, de “Campos Morfogenéticos ou morfológicos, ” que contém todas as informações acumuladas ao longo da história.
As leis das ordens do amor são: o pertencimento, estabelecido pelo vínculo, onde todos os membros da família tem o direito a pertencer ao sistema; a hierarquia, a ordem que é comandada pela precedência no tempo, ordem de chegada e o equilíbrio, o dar e receber, é a lei do dar e tomar no trabalho sistêmico. Quando estas leis não são seguidas surgem os problemas, os emaranhamentos, e é necessário então tomar consciência dos mesmos.
O método da pedagogia sistêmica começou a ser aplicado na área da educação por Marianne Franke- Gricksh (Alemanha), com seu trabalho em terapia familiar e sua experiência como educadora que publicou em 2001 o livro “ Você é um de nós”.
Em Madri por Amparo Pastor e no México por Angélica Olvera Garcia, criadora da pedagogia sistêmica com enfoque em Bert Hellinger que publicou seu primeiro livro em 2009, “ O Sucesso é sua história”. Antes, na busca para um melhor resultado na escola criou o Programa de Apoio Familiar (P.A.F -1986) que continua até os dias atuais.
Teóricos com trabalhos realizados também no campo da pedagogia sistêmica são: Mercé Traveset, Carles Parellada, Maita Cordeiro, José Antonio Garcia, Clara Ventura, Maria Jesús Rodrigues Simón, entre outros.
A pedagogia sistêmica hoje utiliza de ferramentas que podem ser aplicadas no espaço escolar como: a árvore geneológica, autobiografia acadêmica, currículo oculto, as 10 cores do talento, visualizações entre tantas outras.
No Brasil, em 2017, foi formalizado no Programa de Desenvolvimento da Educação ( PDE) um plano educativo com a finalidade de ampliar o olhar no cenário brasileiro para uma melhor qualidade na educação.
Em 2012 aconteceu o primeiro Treinamento Internacional em Pedagogia Sistêmica – ISPAB (Munique- Alemanha) e a Conexão Sistêmica S.Paulo-S.P) e o lançamento da Revista Conexão Sistêmica .
Em 2015 realizou-se a primeira especialização em Pedagogia Sistêmica pela Faculdade CEDAC (Cuiabá) e o Instituto OCA.
Cursos de formação em pedagogia sistêmica são realizados em Brasília com Hellen Vieira da Fonseca e em Minas Gerais com Decio Fabio Oliveira Jr – iDESV.
O Centro de Estudos em Psicopedagogia e Pedagogia Sistêmica de Maceió (CESPPMA), vem aplicando na escola os conhecimentos da pedagogia sistêmica no Colégio Santa Amélia com a coordenação de Salvione Tenório e Eliane Cansanção (2013).
Em 2016, Angélica Olvera, do Centro Universitário Dr. Emílio Cárdenas ( CUDEC) proferiu uma palestra sobre o tema em Brasília . E em 2017 o CUDEC com a Faculdade Innovare iniciou os cursos a nível de pós-graduação em Pedagogia Sistêmica e Direito Sistêmico. Movimento que começa a crescer no Brasil.
A Pedagogia Sistêmica com foco entre a escola e a família se fundamenta no respeito mútuo, nas pessoas e normas de cada sistema e na confiança mútua, onde os professores agradecem os pais por confiarem seus filhos e os pais por prepararem seus filhos para vida e ensinarem os conhecimentos. Juntos, pais e escola acompanham as crianças a dar os passos que lhe conduzem para a vida. Os pais como pais; os professores como educandos e as crianças como filhos e alunos. E assim se torna possível fluir o amor na família, o bem-estar na escola e o conhecimento em sala de aula (Mercé Traveset, 2011).
Portanto, as relações entre a escola e à família devem ser construídas a partir dos vínculos entre pais – alunos-professores, entendendo que existe uma ordem no sistema escolar onde os pais têm a força familiar e os professores devem respeitar a história de vida do aluno e reconciliar-se com seu sistema de origem (Marianne Franke, 2009).
Diante desta ordem é possível construir uma ponte entre a escola e a família para que os alunos, se sintam seguros e possam aprender realizando uma travessia de forma prazerosa.
Assim, o professor com a visão sistêmica terá a possibilidade de trabalhar com os pais, educar as crianças e ensinar.
Acrescento a este trabalho, um discurso dirigido a educadores, por Maturana (2017). Falou sobre o verbo ‘amar” e o papel deste no processo educativo. Coloca “Amar educar” “Se criamos um espaço que acolhe, que escuta, no qual falamos a verdade e questionamos as perguntas e nos damos tempo para estar ali com a criança, essa criança se transformará em uma pessoa reflexiva, séria, responsável que vai escolher a partir de si”.
Família e Escola: a serviço da vida e da aprendizagem
Eliane Calheiros Cansanção