Hiperatividade e Déficit de Atenção: Abordagem Psicopedagógica

ELIANE CALHEIROS CANSANÇÃO

Psicóloga/Psicopedagoga

SALVIONE KLÍVIA C. M. TENÓRIO

Pedagoga/Psicopedagoga

Nos últimos anos muito vem se falando acerca do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDA/THDA).

Existe hoje uma demanda maior de pais, professores que relatam que estas crianças parecem sempre estar em movimento, não conseguem ficar paradas, parecem ter uma fonte quase inesgotável de energia, falam demais, não conseguem se manter em uma brincadeira até o fim, uma vez que mudam de interesse com facilidade. É natural, nas escolas, saírem da sala de aula várias vezes, começarem a atividade e não terminarem, poucas coisas lhe despertam a atenção. Perturbam os colegas, impedem que eles participem da aula.

Verifica-se que a maioria dos diagnósticos são realizados a partir das dificuldades escolares dos pacientes. Levando o fato por envolver os profissionais de educação (professores, pedagogos e psicopedagogos) que devem trabalhar em equipe multidisciplinar tendo como objetivo detectar, esclarecer, informar e até desmistificar este comportamento, fazendo com que se construa novas formas de entender e atender estas crianças e seus familiares.

Esta diversidade de sintomas afetam tanto o desenvolvimento emocional, da criança como sua adaptação social e sua escolaridade mesmo que apresentem nível cognitivo normal.

Surge, portanto, por parte de alguns profissionais da psicopedagogia a preocupação de que muito comumente confunde-se, o comportamento normal da criança mais ativa, devido fase do desenvolvimento em que se encontra com o transtorno de hiperatividade tendendo a se generalizar, e até rotular de agitados, bagunceiros e hiperativos.

O diagnóstico diferencial de TDA/H será a ferramenta chave para que seja realizado o atendimento e/ou tratamento mais adequado sem a utilização indiscriminada de medicamentos.

As manifestações clínicas mais importantes de TDA/H são: a desatenção, a hiperatividade ou atividade motora excessiva e a impulsividade ou falta de controle que se apresentam de forma e intensidade diferente nos vários portadores, devido influências genéticas e do meio ambiente, como sócio-econômico-culturais, afetivas e familiares, tornando cada paciente único do ponto de vista dos seus sintomas. Podendo, assim, predominar mais a hiperatividade, a desatenção ou ambas.

É necessário também levar em consideração as comorbidades (doenças) que acompanham os sintomas de TDA/H, que são: os distúrbios do sono, de linguagem, transtorno desafiador de oposição (TDO), transtorno de conduta, depressão, ansiedade, transtorno bipolar, problemas de aprendizagem, as quais implicarão na necessidade de tratamento específico para cada uma delas.

As comorbidades acompanhadas de TDA/H são colocadas pelos professores e equipe escolar como de grande dificuldade em se lidar no dia a dia na escola.

Para Lídia Cáceres (1998), neuropediatra, é importante um diagnóstico em equipe, para não reduzir o problema ao orgânico. Afirma que atualmente o diagnóstico de TDA/H é limitado por só ser possível inferir hipóteses, não existindo assim, evidências diretas de danos no S.N.C. Devendo, portanto, verificar se o peso maior é neurofisiológico, emocional ou do ambiente, e a partir deste, elaborar as estratégias de tratamento, focando a causa do problema e não o sintoma.

É preciso observar que o mundo vem passando por transformações tecnológicas, econômicas, culturais e sociais, entretanto, o padrão de comportamento esperado não pode ser o mesmo e isto não significa que seja um problema, apenas são novos padrões de comportamentos que surgem, os quais precisamos estar atentos para melhor lidar com os mesmos.

O momento é ideal para começarmos a perguntar, refletir sobre o que está acontecendo com estas crianças e adolescentes inquietos, desatentos e hiperativos.

– Por que existe uma demanda maior de crianças e adolescentes desatentos e hiperativos?

– Por quais mudanças passa o mundo que reflete diretamente no comportamento humano?

– Como crianças e adolescentes podem prestar atenção e pensar?

– O que acontece com o jogar infantil?

– Como lidar, intervir com crianças e adolescentes que se mostram desatentos e hiperativos em seu processo de aprendizagem?

– Como prevenir para que estas crianças e adolescentes não fiquem com sua atividade pensante aprisionada?

Vivemos numa sociedade hipercinética com excesso de informações, com amplo desenvolvimento tecnológico como: a internet, e-mail, celular, blogs, computadores de bolso, vídeo games, e jornais, revistas, rádios, TV. Somando-se a isso todos os papéis que temos de cumprir como pais, filhos, cônjuges, irmãos, profissionais, etc. e devemos estar disponíveis para exercer cada função onde jamais devemos esquecer que somos seres humanos e não máquinas.

Alicia Fernández (1999), psicopedagoga argentina, vem pesquisando sobre o diagnóstico e tratamento do déficit de atenção e hiperatividade. Coloca que a criança pode estar inquieta por diversos motivos: por uma inteligência ativa, questionadora e a falta de resposta à mesma no meio familiar e/ou escolar; ou um chamado inconsciente de atenção em relação a diferentes problemas de ordem psicológica ou psicopedagógica, que deveriam ser escutados cuidadosamente, como também pode responder a patologias orgânicas que requerem um diagnóstico interdisciplinar para então se constatar a necessidade de ser medicada.

Hoje em dia devemos questionar sobre o que significa atenção, concentração no processo de aprendizagem. Para Fernández (2007) “atenção está próxima à descentração, a dispersão criativa, a reconhecer-se autor, a confiar em suas possibilidades de criar o que já está ali, mais próxima de jogar, que do trabalho alienado (Winnicott), e que isto pode ser verificado no modo como estudam os adolescentes que aprendem, simultaneamente lêem, escrevem, escutam rádio, riem, contam coisas, falam ao telefone, fazem lanches, …” significando que a capacidade de atenção está associada à capacidade lúdica.

A palavra atenção vem do verbo “atender”, e atender é cuidar. Jorge Gonçalves da Cruz, psicólogo, coloca que a sociedade globalizada nos “desatende” a todos e coloca como enfermidade o que as crianças denunciam em sua inquietude e falta de atenção.

Portanto as crianças perguntam e não são escutadas e isto surge em formas de sintomas. É preciso escutar antes de medicar.

Para Fernández (2007) “a sociedade “hipercinética” e “desatenta” medica o que produz”.

Percebemos em nossa sociedade que existem medicamentos para cada faixa de idade, portanto devemos estar atentos a esta nova forma de tratamento, que pode estar subtendida o receio da sociedade sobre as novas formas de comportamento.

Paulo Mattos (2006), psiquiatra, coloca que nem todas as pessoas com TDA/H necessitam de medicamentos, devido o transtorno não trazer prejuízos expressivos na vida social, afetiva e profissional.

Fernández (2007), afirma que em sua experiência como psicopedagoga, trabalhando com crianças rotuladas com TDA/H, a partir de uma escuta diferente por parte dos pais ou mestres pode levá-los a conseguir aprender criativamente, em sua maioria, sem necessidade de uso de medicamentos. “É no movimento entre distração e atenção que nos permite aprender”.

É necessário, então, refletir questionar para construir novos modos de pensar, atender, cuidar, abrindo um espaço de pergunta acerca do que acontece quando se fala que uma criança não presta atenção, é hiperativa.

Referências Bibliográficas

FERNÁNDEZ, A. La capacidad atencional. Curso breve a distância: “Nuevos aportes de la psicopedagogía clínica ante el cuestionado diagnóstico de ADD/ADHD. Epsiba, 2007.

____________. La sociedad hiperkinética y desatenta medica lo que produce. Curso breve a distância: “Nuevos aportes de la psicopedagogía clínica ante el cuestionado diagnóstico de ADD/ADHD. Epsiba, 2007.

CRUZ, Jorge G. da. Niños y jóvenes “con déficit atencional”; Desantentos ou Desatendidos?. Curso breve a distância: “Nuevos aportes de la psicopedagogía clínica ante el cuestionado diagnóstico de ADD/ADHD. Epsiba, 2007.

______________. Novos modos atencionales. Curso breve a distância: “Nuevos aportes de la psicopedagogía clínica ante el cuestionado diagnóstico de ADD/ADHD. Epsiba, 2007.

CANSANÇÃO, E. Hiperatividade ou falta de atenção? Desatento ou desatendido? Informativo Pisicopedagógico Ano III – 9ª Edição. Abril: 2006.

SEGATTO, C.; PADILLA, J. e FRUTOSO, S. Remédios demais? Revista Época. Dezembro: 2006.