CAPACIDADE DE ATENÇÃO E APRENDIZAGEM

Hoje uma das queixas mais frequentes de pais e professores sobre as crianças e os jovens são: “Meu filho não presta atenção” , “Os jovens são inquietos”, “ Os adolescentes são distraídos”,  “Os alunos não prestam atenção na aula”, tendo,  como consequência, a queda no rendimento escolar e a mudança de comportamento.

Diante desse contexto, é importante refletir, perguntar e se perguntar:

– O que está acontecendo na sociedade atual?

– Como estamos cuidando de nossas crianças?

– Como se ensina e como se aprende na contemporaneidade?

Nas últimas décadas o mundo vem passando por profundas transformações sociais, econômicas e tecnológicas, as quais refletem  e produzem novos padrões de comportamento, não significando  que os mesmos sejam um problema. É preciso que pais,  professores e a própria sociedade aprendam a lidar melhor com estas mudanças.

As novas tecnologias,  utilizadas nos meios de comunicação,  podem levar crianças, jovens e adultos a ficarem  inquietos, desatentos e ansiosos  por fazerem várias coisas ao mesmo tempo  como atender o celular, abrir e responder  e-mails, navegar na internet,  jogar games,  ver e criar blogs, assistir  a TV, ler jornais etc. resultando, assim, em um  excesso de informações e numa possível diminuição de produtividade, ocorrendo também  uma modificação da noção de tempo e espaço e na forma de comunicação, refletindo diretamente no modo  de viver, sentir e pensar do ser  humano.

Neste  artigo é  nosso desejo compartilhar com o leitor a importância  de atender a infância e a adolescência de acordo  com o momento em que vivemos, respeitando a fase de desenvolvimento  do ser humano, a partir de um olhar e  de uma escuta psicopedagógica.

Atualmente a sociedade globalizada  “nos desatende a todos” e coloca  como enfermidade o que as crianças denunciam  em sua inquietação e falta de atenção. (Jorge Gonçalves da Cruz).  As crianças perguntam e não são escutadas e esta falta de  “atender” surge em forma de sintomas. É preciso escutar mais as crianças, levando-as a viver o momento presente.

A forma de “prestar atenção” é diferente de antes. Alicia Fernández  assinala que a capacidade atencional é construída,  é um processo psíquico inerente ao ato de pensar e aprender. E o verdadeiro sentido de aprender para ela é  “autorizar-se “ a pensar, desfrutar da alegria de criar, refletir sobre nossa condição humana, perguntar, jogar, sonhar, inquietar-se, desejar, trocar. Porque aprendemos daqueles que nos são significativos, quando confiamos em quem nos escuta – se nos escuta. Aprendemos quando somos reconhecidos pelo ensinante, portanto, aprendemos através da nossa subjetividade e objetividade, afeto, inteligência e desejo.

É  importante também  fazer um diagnóstico para verificar outras possíveis causas da falta de atenção e inquietação da criança e do  adolescente que podem ter sua origem nos problemas neurofisiológicos,emocionais  ou sistêmicos  e focar o tratamento na causa  do problema e não no sintoma.

A escola também tem o compromisso de ser um espaço para promover o pensar, o criar e formar pessoas autônomas,  inserindo o aprendiz na sociedade  e instrumentalizando-o para os desafios impostos pelos avanços tecnológicos e excesso de informações, a fim de que possa  articular os conceitos recebidos, transformando-os em valores para a construção de uma sociedade mais saudável e humana.

Atenção vem do verbo atender, e atender é cuidar. Cuidar é mais do que curar.

 

Eliane Calheiros Cansanção